Neuroarquitetura: a união entre arquitetura e neurociência

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Os impactos da psicologia em diversas áreas de conhecimento estão cada vez mais sendo estudados. Na arquitetura, essa realidade não seria diferente e, por isso, hoje já é possível avaliar qual a influência que os ambientes exercem em nossas percepções. A área que estuda e aplica a relação da neurociência (estudo do sistema nervoso) com arquitetura, se chama neuroarquitetura. 

A neuroarquitetura surgiu no início dos anos 2000, mas ganhou ainda mais força nos últimos anos, principalmente com uma migração em massa de pessoas para o trabalho remoto em decorrência da necessidade de isolamento social imposta pela pandemia de Covid-19. Com as pessoas passando mais tempo dentro de suas casas cresceu a necessidade de projetos que unissem mais conforto, utilidade e sensações agradáveis. 

Basicamente, a neuroarquitetura une conceitos da psicologia, neurociência, arquitetura e urbanismo aos projetos dos ambientes. Isso faz com que, por exemplo, a produtividade no trabalho aumente ou diminua dependendo de como um espaço está organizado ou iluminado, ou que você tenha mais qualidade do sono à noite.

Se você está se perguntando como pode colocar em prática esse conceito, calma que vamos te explicar! Neste artigo vamos fazer um apanhado do que é a neuroarquitetura e sua relação com a neurociência, suas aplicações, vantagens e ainda dar uma dica muito especial ao final. Boa leitura!  

O que é neurociência e como ela surgiu?

Antes de falarmos especificamente sobre a neuroarquitetura é importante entendermos o que é neurociência e o que estuda essa área. Em primeiro lugar, a neurociência é um campo da ciência que estuda o sistema nervoso, que é formado por cérebro, medula espinhal, nervos periféricos e suas funções.

Durante muitos anos, a neurociência se restringiu a um aspecto mais biológico desse sistema, avaliando principalmente comandos dados pelo cérebro e transportados às demais partes do corpo.

À medida que a sociedade passou a enxergar o cérebro também responsável pela consciência humana, sendo responsável pela tomada de decisões, pensamentos, desejos e necessidades, isso se transformou.

Portanto, hoje a neurociência se dedica também ao estudo de fenômenos da mente, abordando tópicos como: 

  • envelhecimento, como foco na investigação de doenças degenerativas como Mal de Parkinson e Mal de Alzheimer;
  • educação, passando pela compreensão das bases biológicas, psicológicas e pedagógicas do aprendizado; 
  • drogas, sobretudo diferentes abordagens terapêuticas acerca dos efeitos da ingestão que diferentes medicamentos e substâncias causam ao corpo;
  • retorno científico à psicanálise a partir de novas abordagens; 
  • estudo da consciência e suas dinâmicas.

Diante disso, a neurociência está divida em algumas áreas de estudo, conforme serão descritas a seguir. 

Neurociência comportamental

Essa é uma área que se dedica a entender o que está por trás da conduta humana. Para tanto, o seu foco está em fenômenos da mente, como memória e formação da personalidade.

A neurociência comportamental avalia de que forma o inconsciente afeta as decisões que tomamos. Por essa razão, hoje é uma das áreas que mais desafiam os neurocientistas, já que desperta questionamentos profundos acerca da identidade das pessoas. 

Neurociência cognitiva

Tem como objetivo estudar a percepção e sensação e, para isso, foca em pensamento, memória e aprendizagem. Além disso, a neurociência cognitiva também investiga, baseada na experiência, as interações entre os cinco órgãos do sentido. 

Neurofisiologia

A neurofisiologia tem como objetivo desenvolver estudos sobre o sistema nervoso central e o periférico a partir de suas interações. Com isso é possível não só compreender, mas também identificar desordens que levem ao mau funcionamento, como epilepsia ou esclerose múltipla. 

Neuroanatomia

Já a neuroanatomia é uma subárea cujo objetivo é conhecer a organização do cérebro, medula espinhal, nervos e terminações nervosas. Em conjunto com a neurofisiologia, avalia o impacto de lesões e experimentos a fim de aprofundar os conhecimentos a respeito do sistema nervoso. 

Neuropsicologia

A neuropsicologia realiza a investigação da base cerebral para respostas e atitudes mais complexas do organismo como distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais. Uma das questões estudadas nessa subárea é o impacto de lesões e traumas cerebrais na personalidade de um indivíduo em relação a ações, inteligência, percepção, pensamentos, movimento e atitudes.

E a neuroarquitetura, como surgiu?

Agora que você já entendeu um pouco mais sobre o que é neurociência, pode estar se perguntando como tudo isso tem a ver com arquitetura, certo?

De maneira geral, conhecer melhor o funcionamento do nosso cérebro e do sistema nervoso como um todo é essencial para entender como o ambiente pode influenciar nossos pensamentos e, dessa forma, ajudar arquitetos a pensarem espaços que impactem usuários de uma forma mais profunda. 

É nesse contexto que ganha espaço o conceito de neuroarquitetura. Como adiantamos no início deste texto, essa é uma área que une a neurociência, e toda sua complexidade, com a arquitetura. Dessa forma, o objetivo dessa junção é pensar espaços para além da estética, buscando uma compreensão maior de como o ambiente pode influenciar no comportamento humano. 

Muito já se sabe sobre a influência de elementos como cores, iluminação e design no dia a dia de pessoas, mas como esses elementos impactam no inconsciente é o que a neuroarquitetura busca explicar. 

A origem do termo neuroarquitetura está diretamente ligada à criação da Academy of Neuroscience for Architecture – ANFA, na Califórnia em 2003. Essa instituição tem como objetivo principal o fomento da pesquisa na área. 

Os principais nomes ligados ao surgimento da neuroarquitetura são Fred Gage e John Paul Eberhard. O Dr Fred Gage é neurocientista com Ph. D pela Universidade Johns Hopkins (1976) e atua como professor do laboratório de genética no The Salk Institute desde 1995.

Já John Paul Eberhard, pioneiro na compreensão do impacto neurológico do ambiente construído, foi um arquiteto de pesquisa e acadêmico americano. Vencedor do prêmio FAIA – Fellow of the American Institute of the Architects, foi também o primeiro da ANFA, onde contribuiu ao lado de Fred Gage para a promoção e avanço da pesquisa da neurociência em relação ao ambiente construído. 

Elementos da neuroarquitetura

Partindo então da perspectiva de que um projeto arquitetônico pode influenciar não só nossas emoções mas também nosso inconsciente e, consequentemente a forma como sentimos o espaço, podemos identificar alguns elementos que são comuns à neuroarquitetura. 

Iluminação, cores, temperatura, acústica, texturas e até mesmo o cheiro de um ambiente são fatores que podem influenciar nessas sensações causadas pelo espaço. Tudo deve ser pensado para que o ambiente seja o mais confortável e propício para o desenvolvimento da atividade para qual se destina. Afinal, a neuroarquitetura ajuda a estimular os cinco sentidos do corpo humano. 

Veja como se aplica em cada um: 

  • visão: um dos principais elementos usados para estimular este sentido são as cores, pois são capazes de estimular sensações nas pessoas. Desse modo, na neuroarquitetura é feito um estudo para entender quais cores são mais adequadas para despertar o sentimento desejado no cliente; 
  • audição: o sentido da audição, apesar de ainda pouco explorado na arquitetura, se manifesta por meio da escolha de músicas, sons ambientes e a inclusão de sons da natureza capazes de proporcionar bem-estar; 
  • olfato: o cheiro é responsável por fazer com que as pessoas tenham sensações profundas relacionadas a memórias, viagens e emoções. Por essa razão, é cada vez mais comum incluir aromaterapia em conjunto à neuroarquitetura para proporcionar um ambiente mais agradável; 
  • tato: no que diz respeito à neuroarquitetura a tendência é misturar elementos que misturam a visão com o tato, trazendo elementos que transmitam calma, segurança etc. 
  • biofilia: tendência que traz a sensação de contato maior com a natureza para dentro de casa por meio do dos projetos a partir da inclusão de plantas, acabamentos e projetos a fim de gerar paz e tranquilidade nos ambientes. 

Pontos positivos da neuroarquitetura

Adotar a neuroarquitetura em um projeto pode trazer uma série de vantagens. Seja em um ambiente residencial ou comercial, a ideia de poder fazer com que as pessoas se sintam mais confortáveis e alcancem os seus objetivos, seja de trabalho ou pessoal, é um ponto positivo. 

Por exemplo, ao empregar algumas técnicas de iluminação, mobiliários adequados e cores é possível que colaboradores de uma empresa apresentem melhoria na produtividade. O mesmo vale para restaurantes que usam de determinadas cores para criar um senso de urgência, aumentando a sensação de fome e consequentemente, maior consumo. Outro exemplo é a própria conexão com a natureza, capaz de trazer mais calma e tranquilidade para dentro de casa. 

Desse modo, podemos citar ainda como benefícios da neuroarquitetura, os seguintes aspectos: 

  • melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho;
  • mais da produtividade;
  • mais motivação para desempenhar as atividades do dia a dia;
  • humanização de ambientes;
  • ambientes mais confortáveis e relaxantes;
  • estímulo maior da da criatividade;
  • integração e cooperação;
  • diminuição do estresse.

Como ela vem sendo aplicada em projetos arquitetônicos?

Depois de entendermos sobre o conceito de neuroarquitetura e suas vantagens, vamos falar agora de algumas aplicações em projetos arquitetônicos no que diz respeito a sensações e em quais ambientes são mais recomendados. Continue a leitura! 

Iluminação e sensações

A iluminação artificial pode afetar o nosso biológico e, com isso, impactar em nosso sono e em uma série de funções do corpo humano, como humor, aprendizagem, sistema digestivo etc.

Para que isso não seja problema para os usuários, o arquiteto pode tornar as luzes de uma casa mais adequadas com soluções inteligentes, como uso de dimmers que regulam a exposição à luz ao longo do dia e da noite.

Outra forma de melhorar a exposição à iluminação é ter diferentes fontes como luminárias de chão, abajur, arandelas para que se possa variar conforme as cenas e a necessidade. Além disso, é importante saber alternar as cores e temperatura. 

Traga o verde

Um ótimo recurso para criar sensações na neuroarquitetura é por meio da inserção de elementos que tragam a natureza para dentro de casa. Além de plantas, essa tendência pode ser expressa por meio de móveis de madeira mais rústica, revestimentos que lembram pedras naturais, paredes em tons de verde ou tons terrosos e até sons ambientes como parte da decoração. Esses elementos trarão a sensação de relaxamento e calma para dentro do espaço. 

Formas e movimento

O uso de formas e movimentos na decoração podem ser aliados na ativação da aprendizagem e memória. Isso porque a decoração com acabamento mais arredondado, por exemplo, tende a ativar mais a atividade cerebral em comparação aos acabamentos retos. De modo geral, a geometria mais suave é um bom estimulante para a aprendizagem. 

Móveis mais retos ou linhas simples podem não transmitir tantas sensações boas, no entanto, podem ser suavizados com auxílio de elementos arredondados na decoração como almofadas, mesa de centro, abajures ou quadros. 

Armazenamento

Na neuroarquitetura, pensar nos objetos e em quais lugares armazená-los é uma questão muito importante. Afinal, reduzir a quantidade de itens desnecessários espalhados significa reduzir a desordem e, consequentemente, poupar energia mental gasta.

Por essa razão, ao pensar na decoração, é essencial definir um design que funcione para o estilo de vida do usuário, levando em conta as necessidades de armazenamento, facilitando para a mente tomar micro-decisões ao longo do dia. Isso pode significar desde ações maiores como criar gavetas específicas em armários, até o melhor posicionamento de uma lixeira. 

O que é a NeuroArq Academy e o que ela tem a ver com isso? 

Se você se interessou por esse assunto e quer saber onde buscar mais conhecimento sobre neuroarquitetura, temos um convite especial para você! 

O NeuroArq Academy — Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura — foi fundado em 2019 como pioneiro na área no Brasil.

Idealizada pelas arquitetas Gabi Sartori e Priscilla Bencke, o objetivo da NeuroArq é capacitar profissionais a partir de uma visão sistêmica de espaço, comportamento e bem-estar a partir de um programa de formação composto por cursos, eventos, workshops, conferências e pesquisas destinadas para arquitetos, designers, projetistas e demais interessados no estudo da neuroarquitetura. 

A NeuroArq é parceira da Roca Cerámica, que logo lançará um laboratório experimental de fábrica, o Roca NeuroLab Experience. Em breve, você terá acesso a essa novidade! 

Se você gostou deste conteúdo e quer ficar sempre por dentro das tendências da arquitetura, continue a leitura do nosso blog!

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